Uma equipa de médicos britânicos afirma ter descoberto por que razão os campos electromagnéticos, gerados por cabos de alta tensão ou por aparelhos eléctricos, podem estar na origem do aparecimento de cancro. Num artigo publicado no “International Journal Radiation Biology”, os autores da investigação falam de uma possível relação entre o cancro e os cabos de alta tensão por estes últimos atraírem partículas do gás radioactivo radão.
“ Os investigadores descobriram que tanto os cabos de alta tensão como os vulgares electrodomésticos são capazes de atrair os derivados radioactivos de radão, presentes no ar que se respira todos os dias”, diz a revista num comunicado. “Eles verificaram que, noutros estudos semelhantes, também havia provas de que podiam encontrar-se concentrações nocivas de derivados de radão por cima dos cabos de alta tensão. Nos campos electromagnéticos associados aos cabos pode assim concentrar-se um ‘cocktail’ de produtos potencialmente cancerígenos”.
“A radiação proveniente do radão e os derivados da sua desintegração são das substâncias cancerígenas mais poderosas que conhecemos”, sublinhou Dennis Henshaw.
Henshaw e os seus colegas da Universidade de Britol analisaram relatórios feitos desde há quase 20 anos. Segundo os autores, nesses registos as populações que vivem perto de cabos de alta tensão apresentam taxas de incidência particularmente elevadas de certos tipos de cancro, como a leucemia. Porém, nem todos os investigadores estão de acordo com esta leitura das estatísticas. De facto, neste momento existem provas de que os campos electromagnéticos gerados pelas linhas de alta tensão provocam mutações genéticas nos ratos. No entanto, ainda não há certezas de que o mesmo aconteça no homem
Henshaw e os colegas estudaram depois o radão – um gás que se encontra presente em quase todo o lado e que geralmente atinge concentrações mais elevadas nas casas construídas em regiões graníticas. Os investigadores colocaram películas de plástico destinadas a detectar partículas radioactivas do radão em diversos locais das casas.
Ora, além de essas partículas terem sido detectadas ao pé de postes de alta tensão, observou-se também que elas eram objecto de oscilações originadas pelo próprio campo magnético. ”Se se inala uma partícula em oscilação, ela tem maiores probabilidades de aderência”, diz Henshaw. E o Medical Research Council, que financiou o estudo, também concorda que estas partículas são mais facilmente inaladas.
De facto, para Henshaw “a questão não se resume aos derivados do radão” mas relaciona-se com as linhas de alta tensão capazes de atraírem as tais partículas e provocarem a sua oscilação.
Barry Michael, do Cancer Research Trust, considera aquela explicação representa “uma ruptura” do ponto de vista conceptual. Em contraponto, a Protecção Nacional Radiológica Britânica considera-a “improvável”. Num comunicado, afirma antes que as provas sugerem que os campos electromagnéticos reduzem ligeiramente a exposição humana aos derivados do radão. E acrescenta: “Não ficou estabelecido que a exposição aos derivados de radão provoque qualquer tipo de cancro”.
Para Henshaw, essa leitura está “errada”, pois “as provas experimentais mostram um aumento de radão” à volta dos campos electromagnéticos. No entanto, o investigador sublinha que deste estudo não emerge a conclusão directa de que o radão atraído pelos cabos de alta tensão provoque cancro. Para chegar a essa conclusão, são necessários mais estudos.
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